Sábado. Era uma manhã fria. O corredor escuro do hospital nos passava uma sensação de ansiedade. Após duas horas de espera, a ansiedade tornou-se curiosidade. Enquanto os entrevistados não acordavam, as fichas de internação serviam como guias para nos mostrar as histórias de vida que iríamos conhecer na ala psiquiátrica.
Ao percorrer o corredor do hospital nos deparamos com uma grade trancada por cadeados e coberta por uma tela, era o que nos separava dos depoimentos, envolvendo dependentes químicos. Ao ultrapassar aquela grade tomamos conhecimento de histórias distintas, mas que em certos pontos se entrelaçavam.
J.A.B. observando a calma rotina naquela ala do hospital (Crédito: Karolyn Petrucci) |
Observamos ali que as pessoas sentiam-se aprisionadas, mas esta prisão tinha um sentido diferente. Tudo para elas indicava uma luz no fim do túnel, era mais uma chance de uma nova caminhada, rumo á uma vida saudável, e um futuro promissor. Era nisso que elas se apegavam a cada dia de tratamento, além de contar com o apoio da família, e a vontade de viver longe do vício, que para elas é maldito. Onde o envolvimento só leva á um destino, a cadeia ou o cemitério.
Motivos diferentes justificavam o envolvimento com a droga, porém a decisão de procurar ajuda tinha explicações semelhantes. Percebemos isso ao conversar com J.A. B, 33 anos, que nos falou assim:
“Eu entrei no mundo das drogas porque isso já estava na genética da família. Eu achava que eu podia usar e ia ter o controle, que eu nunca ia me viciar.” Ao pedir para ele falar como enxerga sua internação, a resposta foi firme.
“Eu quero viver meu tratamento só por hoje e mais nada”.
Em um lugar onde poderíamos encontrar apenas rostos tristonhos e pessoas desanimadas pensando quão insolúveis eram seus problemas, conhecemos um rapaz que apesar de tudo ele consegue sorrir e acordar bem humorado, acreditando na sua recuperação, esta pessoa é J.N.E,20 anos.
Conheceu a droga aos 15 anos, iniciou pelo cigarro, passou para a maconha e por último o crack, chegando ao ponto de mendigar para sustentar o vicio. A partir daí o bom relacionamento com a família onde era o queridinho da vovó se transformou em total desconfiança. Isso por causa do envolvimento com a droga.
Hoje após alguns meses de tratamento ele está convicto de seu objetivo. Se livrar do vicio não é o único motivo que lhe fez procurar ajuda.
“Quero pegar de novo a confiança que os outros tinham em mim. Eu tenho que mostrar que eu to me recuperando, que eu vou me recuperar, e que eu vou vencer.”
Após ouvir os depoimentos, percebemos que para todos foi difícil admitir que precisavam de ajuda, mas agora, o mesmo desejo une uns aos outros ali dentro, ocorrendo assim um monitoramento entre os mesmos.
As grades que de inicio apavoravam, agora é apenas uma divisão entre os tropeços que estão deixando para trás e a nova vida que desejam construir. Através delas eles enxergam o que ainda pode ser recuperado, e o que a partir dali vai ser construído.
Parece um presídio, sim, os corredores assustam, as grades sufocam, mas este é o sentimento de quem se depara com aquela situação, mas não vivencia, este foi o nosso sentimento. Para eles o sentimento é outro, é de esperança, as grades são outras, são as grades da liberdade.
Texto por Franciéle Rodrigues
Foto por Karolyn Petrucci
Foto por Karolyn Petrucci
Aúdio por Franciéle Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário