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1 de dez. de 2012

O destino do lixo em São Borja

Pâmela Faustino
Rafael Junckes
Tamara Finardi

O lixo que colocamos nas lixeiras de nossas casas parece ter pouco valor. Você concorda? Ele é o resultado do consumo diário de muitos produtos em um ciclo comum: comprar, consumir e descartar. Quem pensa assim, ao menos uma vez ao ano, quando recebe a cobrança da taxa de lixo, toma certa consciência da importância do descarte adequado e de que o final desse processo não está na lixeira de casa. A taxa, no entanto, não oferece a noção geral do montante gasto com estes resíduos, tampouco do impacto de nosso consumo no meio ambiente. Em São Borja, atualmente, são destinados mais de R$ 2 milhões por ano para a coleta de resíduos sólidos e orgânicos. Este gasto já foi superado em anos anteriores, chegando a mais de R$ 4 milhões/ano.

No infográfico, entenda o cálculo da taxa anual de lixo em São Borja.

[Acessibilidade] clique aqui para acessar o conteúdo do infográfico em texto.


Histórico do lixo são-borjense
No primeiro plano da foto aparece uma parte do chão, de terra vermelha,sem nenhuma cobertura de grama ou vegetação. No segundo plano um pedaço de gramado, com algumas arvores. Do lado esquerda da foto, aparece um sacos de lixos amarelos cobertos com lona preta. No terceiro plano da foto, aparece uma lavoura de  arroz
Lavouras de arroz ao lado do lixão/ 
foto: Pâmela Faustino

Por cinco décadas todo o lixo produzido pelo município era enterrado num espaço de três hectares, localizado próximo ao cemitério municipal do bairro do Passo. Neste período o lixo era apenas jogado no solo sem nenhum cuidado. “A área ainda está contaminada, se você escavar vai encontrar vários sacos de lixos”, enfatiza o secretário do Meio Ambiente, José Ênio de Jesus.

O lixão começou a gerar problemas iminentes para a cidade. Além do mau cheiro, a falta de cuidados com o depósito dos resíduos levantou grandes discussões sobre impactos ambientais como a contaminação do solo, do lençol freático e do riacho do Arroio do Padre, que passa ao lado do terreno e desemboca no Rio Uruguai.

A alternativa encontrada foi enviar os resíduos para outras cidades do Estado. De acordo com José Ênio, no início o material foi levado para Minas do Butiá, que fica a 532 km do município. Depois passou a ser enviado para Santa Maria e o último destino foi Marau, a 413 km de São Borja. O transporte gerava grande despesa aos cofres públicos, cada tonelada de lixo transportada tinha o custo de cerca de R$ 150. Logo, só com transporte o investimento era de R$ 6 mil/dia.

No entanto, desde 2011 o lixo voltou a ser deixado em São Borja. A atual empresa de coleta, a Eccolix, passou a recolher e embalar o lixo em bolsões plásticos. O material é depositado na área degradada do antigo lixão, sem entrar em contato com o solo, de acordo com o gerente da empresa, Marcelo Barcellos.



O processo de coleta de lixo em São Borja








[Acessibilidade]: ouça abaixo a audiodescrição da videorreportagem "O destino do lixo em São Borja".
  


O caminhão de recolhimento do lixo é dotado de um sistema onde os resíduos são prensados, ao final são depositados no local do antigo lixão em bolsões plásticos de quatro toneladas cada (Entenda melhor o sistema na videorreportagem). O chorume, líquido preto e expeço que sai do processo de prensa, é separado e depositado em duas piscinas de decantação. Há cinco meses o líquido passa por um tratamento de descontaminação ainda experimental, antes disso o líquido era armazenado em tonéis e transportado até Santa Maria, onde recebia o tratamento realizado por uma empresa especializada. Em São Borja o lixo é recolhido no centro da cidade seis vezes por semana e nos bairros mais distantes três vezes alternadas.

No fundo o céu está azul, sem nenhuma nuvem. O primeiro plano da foto é um caminhão, com uma prensa que serve para tornar menos os grandes sacos amarelos de lixos. No lado direito da foto, ao lado do caminhão estão dois rapazes. Um está arrumando o caminhão, ele veste uma bermuda laranja com uma listra branca e uma camiseta verde. O mesmo usa um boné colorido. Já o segundo moço, está olhando o que está arrumando o caminhão, ele veste bermuda laranja com detalhe em branco e uma camiseta laranja com um detalhe em branco. Não está usando boné.

Caminhão da coleta de resíduos sólidos e orgânicos/
Foto: Tamara Finardi
Bolsão plástico sobre a gel membrana/Foto: Pamela Faustino

Durante a visita não fomos autorizados a conhecer as piscinas de tratamento do chorume. Barcellos informou que elas ficam a céu aberto já que a água da chuva é um componente que acelera o processo de descontaminação. O risco do procedimento é o de vazamento de água, com o aumento do nível pelas chuvas.

No terreno, os bolsões são empilhados sobre uma gel membrana de 8mm (espécie de lona preta especial), com o intuito de proteger o solo da contaminação. As pilhas são parcialmente cobertas por lonas plásticas para aumentar a vida útil do material e permitir que o armazenamento seja prolongado. “Por mais que ela seja fechada, há vazamento de gás metano. Com isso a poeira pega e fica aquela aparência toda muito degradada. A lona é uma alternativa para melhorar a questão da parte sustentável da bolsa, para que ela dure um pouco mais”, explica Marcelo Barcellos, gerente da Eccolix em São Borja.
No fundo podemos ver o céu completamente azul, com algumas nuvens pequenas. No primeiro plano da foto, sacos grandes de resíduos de cor amarela. O chão de terra vermelha, aparece com bastante barro, dando a entender que fazia pouco que havia chovido. No meio, dos sacos amarelos bem a direita da foto, uma lona preta cobre alguns desses sacos.
Bolsões plásticos empilhados no lixão/
Foto: Pâmela Faustino

Segundo o secretário do Meio Ambiente do município, José Ênio de Jesus, o trabalho realizado pela Eccolix custa R$ 197,00 por tonelada de lixo recolhida. Ao fim de um ano são cerca de 2 milhões e quatrocentos mil reais despendidos para a Eccolix.

Nossa equipe foi até o local onde fica depositado o lixo no dia 21 de novembro de 2012. A visita foi monitorada e não tivemos permissão para fazer imagens de todo o lugar. Neste dia foram encontradas algumas bolsas rasgadas e outras sem a cobertura da lona plástica, pelo chão é possível ver o resultado das décadas de descarte do lixo sem qualquer tratamento, bem como resíduos que vez ou outra se desprendem dos bolsões.

Segundo Barcellos, a cobertura das pilhas de bolsões foi iniciada no início desse ano e, como tem um caráter de prolongação adicional na vida útil das bolsas, nem tudo está coberto. A chuva e o vento forte também favorecem danos aos bolsões. Assim como, as reações químicas (gás metano, chorume e outros resíduos) que acontecem no material compactado.


Consciência Seletiva

Galpão de madeira, parede dos fundos de cor branca. Foto feita na luz do dia. No chão do galpão há muitos fardos de material reciclável espalhados por todo o espaço. Esses fardos contêm materiais como papel, papelão e garrafas plásticas, tudo amarrado com cordas.
Interior da Cooperativa de Recliclagem Cooreciclar/
Foto: Pâmela Faustino

A Coleta Seletiva em São Borja, que acontece em paralelo ao trabalho da Eccolix, é realizada pela Cooperativa dos Trabalhadores de Triagem e Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos São-borjense, a Cooreciclar desde dezembro de 2010. A triagem do material é feita em uma área vizinha ao depósito do lixo do município, dentro do espaço de três hectares do antigo lixão.

“A prefeitura tem um contrato de cedência com a cooperativa, cedendo um caminhão como forma de ajuda de custo, mas a manutenção e operação são por conta da cooperativa [...] esse caminhão agora não está funcionando, o usado hoje na coleta é alugado por eles, a prefeitura paga um equivalente a R$ 5,30 por quilômetro rodado, até 1.500 quilômetros por mês”, explica o secretário do Meio Ambiente. O presidente da Cooreciclar, Valdir Radiuk, declarou na visita da nossa equipe ao lixão que “desde julho, há R$ 35 mil só da cooperativa para receber da prefeitura”.

Segundo dados da Cooreciclar, em São Borja são recolhidas de 30 a 40 toneladas de material reciclável por mês. Mas no processo de coleta da cooperativa nem todo lixo recolhido levado para a triagem contém material adequado para a reciclagem. Sacolas de supermercado, papel higiênico, resíduos orgânicos e outros materiais acabam sendo recolhidos e precisam ser separados. Esse lixo é depositado nos arredores da cooperativa para que a prefeitura dê a destinação adequada.

Radiuk revela que se encontra de tudo entre o material reciclado, por volta de seis anos atrás ele encontrou “uma criança aqui [...] uma gurizinha, tava dentro de duas sacolas verdes, devia pesar uns três ou quatro quilos, toda formadinha”.







Aterro Sanitário
Segundo informações do gerente local da Eccolix, Marcelo Barcelos, os bolsões plásticos de armazenamento do lixo compactado devem ficar estocados por um período mínimo de 24 meses. O processo de estocagem em São Borja iniciou em março de 2011, então até março de 2013 os promeiros bolsões poderão ser abertos.

Passado o prazo é possível abri-los para separação de matéria orgânica (que pode ser utilizada para adubação), plástico e outros materiais que ainda podem ser reciclados e o lixo comum não reciclável. Este último poderá ser enviado ao futuro aterro sanitário que vem sendo organizado por um consórcio de administração entre os municípios de São Borja, Itaqui e Maçambara. Conforme informou a secretaria de Meio Ambiente, o local adquirido para a construção tem uma área de 50 hectares e prevê o recebimento de 80 a 100 toneladas de lixo ao dia. Na área a proposta será desenvolver também atividades relacionadas à coleta seletiva e a compostagem. Segundo José Ênio, o aterro deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2013, pois atualmente aguarda a liberação da licença prévia emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM).

Até lá o lixo continua sendo compactado e ensacado pela Eccolix, ainda sem perspectivas de destinação dos bolsões plásticos empilhados. “A gente faz uma proposta pra prefeitura, se a prefeitura quiser contratar, contrata. O lixo é problema do município. [...] Por mais que não tenha viabilidade econômica fazer essa operação, qualquer coisa que o município fizer com o dinheiro pra proteger o meio ambiente, para não enterrar lá naquele aterro, excelente. Eu creio que nós [moradores] devemos pagar o preço por isso ai. A não ser que a gente tenha educação nas nossas residências para aprender que não devemos colocar o lixo da forma que a gente coloca fora”, esclarece Marcelo Barcellos.



Entenda a diferença entre lixão e aterro sanitário no podcast a seguir:

[Acessibilidade]clique aqui para ler o conteúdo do podcast.


* As fotos desta postagem possuem texto descritivo para softwares leitores de tela.

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