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23 de mai. de 2011

Vaca, um amor de gente

Dona Neli e Seu Alzirino, uma história de esperança e companheirismo
(Crédito: Karolyn Petrucci)
Uma simples mulher de pele clara, baixa estatura e cabelos vermelhos que recebe o apelido carinhoso de seu companheiro como "cabecinha de pica-pau". Além de ter olhos escuros que remetem o esforço de uma vida inteira, ela também tem músculos fortes que retratam o trabalho braçal do dia-a-dia. Uma rotina que começa a partir das seis e meia da manhã, e que a envolve até o fim do dia com um intervalo apenas para os afazeres domésticos. 

Assim é a vida de dona Neli de Matos Soares, 61, residente à vinte e dois  anos na Rua Castro Alves, onde cuida carinhosamente de suas três vaquinhas que levam o nome de “Mocha”, “Preta” e “Aspinha” e que ela considera um amor de gente. “É por isso que eu não gosto nem de judiar dos bichos, não dou um tapa. Porque se não fossem elas, o que seria de mim?”

 

Dona Neli trabalha com a venda de leite há 12 anos, de onde tira parte de seu sustento, pois ela conta com a ajuda da aposentadoria de seu companheiro, o senhor Alzirino Soares de Almeida, 72 anos. Segundo seu Alzirino, dona Neli já teve 18 vaquinhas, mas com o passar do tempo elas diminuíram. Hoje, ela lida apenas com as três, que rendem em média 11 litros de leite por dia, quando os terneiros ainda estão novinhos. 

A alimentação destes animais é à base de ração, pois dona Neli afirma que somente o pasto não faz a vaquinha render. Durante a noite, “Mocha”, “Preta”, e “Aspinha” ficam resguardadas em um galpão azulzinho com um tom puxando para o verde, onde cada uma tem seu lugarzinho certo. Ao amanhecer o dia, elas cumprem com seus compromissos e depois são levadas para o campo, onde passam todo dia e só retornam para casa no fim da tarde para se alimentar e voltar aos seus aposentos.





A Família
Uma família grande, composta por 8 filhos e aproximadamente vinte netos. Esta é a composição familiar de dona Neli. Segundo ela, seus filhos foram criados à base do leite que ela mesma tirava, um ofício que aprendera desde pequena. Durante a conversa, dona Neli me conta que ela sempre gostou de tirar leite e só diminuiu o número de vacas porque começaram a roubar dela, “aqui, se deixar não amanhece”.


Um fato curioso que ela revelou durante a prosa é que as suas vaquinhas têm um compromisso apenas com ela, acostumaram-se com a dona. “Se um estranho vai tirar leite elas não deixam”.

O casal que é natural da cidade de Caibaté, firmou-se em São Borja há 30 anos, e há 22 transformou o seu terreno em um pequeno sítio, onde além de criar as três vaquinhas ainda tem espaço para a baia. Alguns galos e galinhas se dividem em comportados e rebeldes, onde os rebeldes dormem empoleirados em uma árvore e os mimados, assim chamados por seu Alzirino, dormem no aconchego das vaquinhas. Além disso, ainda tem os quatro cãezinhos que esperam atentos o chamado de Alzirino para recolher as vacas do campo.



Uma conversa informal que de início seria apenas com dona Neli, tomou outro rumo quando seu Alzirino fazia questão de responder algumas das perguntas feitas por mim, e a partir disso a nossa conversa passou a ser mais rica do que já estava. Um fato que me chamou atenção foi a questão que ele fazia de mostrar a vegetação que ele plantara naquele terreno ou pequeno sítio e a maneira como se referiu ao verde. “Eu gosto do verde porque o verde é esperança e o amarelo é desespero”.

E assim eu encerro aqui esta história, porque no dia-a-dia, a história deste casal continua regada com muita esperança e multiplicada pelo carinho que eles têm pelos seus animais, especificamente dona Neli pelas suas vaquinhas, pois segundo ela, “vaca é um amor de gente”.

Assista o vídeo abaixo, onde Dona Neli fala sobre sua vida e seu trabalho:





Texto por Franciéle Rodrigues
Imagens por Karolyn Petrucci e Dhouglas Castro
Fotos Karolyn Petrucci 

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