Naquele dia, Clarisse acordou sem saber que dia era aquele. Na verdade, ela não acordou – foi acordada. Os barulhos loucos do mundo do lado de fora, combinados com uma ideia inconsciente de que haviam muitas coisas a serem feitas foram os motivos que a fizeram despertar.
A correria dos últimos meses era tanta que Clarisse tinha a impressão de que seu cérebro havia ativado um piloto automático e, sempre que acordava, ela demorava alguns minutos para entender onde estava, o que aconteceu e o que iria fazer nas próximas horas.
“Seis de junho”, dizia o calendário. Devia ser seis de junho, portanto. O relógio do seu quarto dizia: “7h41min”. “Atrasada!”, pensou. Mais uma vez, não iria dar tempo de tomar banho nem café.
Clarisse lembrava com saudosismo de sua infância e adolescência – momentos em que era realmente livre, mas achava que alguns trabalhos da escola eram chatos. Quem dera se sua definição atual de “trabalho chato” pudesse ser a mesma.
Ela estava cansada. Cansada de viver uma subvida, por dedicar dez horas de cada um de seus dias (exceto domingo) em troca de notas de papel. Mais do que notas de papel, o que ela desejava em seu âmago era mudar o mundo. O seu mundo, nem que fosse (os tempos atuais a deixaram menos exigente).
Todos esses pensamentos passavam pela cabeça de Clarisse enquanto o piloto automático fazia as mesmas coisas de sempre – levantar, vestir-se, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar os dentes, prender o cabelo, sair do banheiro, pegar a bolsa, olhar-se no espelho, abrir a porta, sair de casa, fechar a porta, ir ao trabalho.
Chegando ao trabalho, os relógios do lugar diziam que eram “8h22min”. Vinte e dois minutos atrasada. Como já era de se esperar, Clarisse teve que aguentar a ira daquele que era um dos responsáveis pelo fornecimento das notas de papel, conhecido como “chefe”. Antes de ser demitida, passou por uma sessão de reclamações acerca de seus atrasos anteriores. Ela nem revidou durante a sessão de reclamações, pois estava cansada. Também não ficou abalada com a demissão. Apenas pensou: “Se ia me demitir, porque o falatório”?
Diferentemente do que muitos poderiam sentir num momento como aquele, Clarisse saiu do trabalho com uma incrível sensação de leveza. Era fácil descobrir o porquê de ela estar com essa sensação: seu cérebro havia saído do piloto automático. Será essa a sensação que se chama liberdade? É uma pena que não possamos trocá-la pelas notas de papel.
Escute abaixo um poema sobre a correria do mundo moderno.
A correria dos últimos meses era tanta que Clarisse tinha a impressão de que seu cérebro havia ativado um piloto automático e, sempre que acordava, ela demorava alguns minutos para entender onde estava, o que aconteceu e o que iria fazer nas próximas horas.
“Seis de junho”, dizia o calendário. Devia ser seis de junho, portanto. O relógio do seu quarto dizia: “7h41min”. “Atrasada!”, pensou. Mais uma vez, não iria dar tempo de tomar banho nem café.
Clarisse lembrava com saudosismo de sua infância e adolescência – momentos em que era realmente livre, mas achava que alguns trabalhos da escola eram chatos. Quem dera se sua definição atual de “trabalho chato” pudesse ser a mesma.
Ela estava cansada. Cansada de viver uma subvida, por dedicar dez horas de cada um de seus dias (exceto domingo) em troca de notas de papel. Mais do que notas de papel, o que ela desejava em seu âmago era mudar o mundo. O seu mundo, nem que fosse (os tempos atuais a deixaram menos exigente).
Todos esses pensamentos passavam pela cabeça de Clarisse enquanto o piloto automático fazia as mesmas coisas de sempre – levantar, vestir-se, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar os dentes, prender o cabelo, sair do banheiro, pegar a bolsa, olhar-se no espelho, abrir a porta, sair de casa, fechar a porta, ir ao trabalho.
Chegando ao trabalho, os relógios do lugar diziam que eram “8h22min”. Vinte e dois minutos atrasada. Como já era de se esperar, Clarisse teve que aguentar a ira daquele que era um dos responsáveis pelo fornecimento das notas de papel, conhecido como “chefe”. Antes de ser demitida, passou por uma sessão de reclamações acerca de seus atrasos anteriores. Ela nem revidou durante a sessão de reclamações, pois estava cansada. Também não ficou abalada com a demissão. Apenas pensou: “Se ia me demitir, porque o falatório”?
Diferentemente do que muitos poderiam sentir num momento como aquele, Clarisse saiu do trabalho com uma incrível sensação de leveza. Era fácil descobrir o porquê de ela estar com essa sensação: seu cérebro havia saído do piloto automático. Será essa a sensação que se chama liberdade? É uma pena que não possamos trocá-la pelas notas de papel.
Escute abaixo um poema sobre a correria do mundo moderno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário