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23 de abr. de 2012

Imigração Italiana - Entrevista Perfil com Davide Carbonai

“O que eu gosto do Brasil é a transformação!”,
revela o professor que mora em São Borja há 9 meses. 


Em entrevista ao Infoscópio, Davide Carbonai, professor da Universidade Federal do Pampa, conta como foi a imigração para São Borja e opina sobre política e questões sociais que envolvem a chegada dos Italianos no Brasil.
Na conversa com a repórter Jaqueline Brendler, o italiano revela ter encontrado segurança profissional e a realização pessoal em território brasileiro. Confira a entrevista na íntegra.









O Infoscópio - Por que decidiu vir para o Brasil?

Davide - Isso é um ponto em aberto. São casos da vida, histórias pessoais. Não é somente uma escolha individual. São as histórias da vida da gente. Diria que isso é um efeito borboleta.

O Infoscópio - O Sr. acredita que exista uma imigração moderna?

Davide - Acredito que as pessoas procuram algo melhor. Brasileiros imigram para Itália, Japão... Assim como nós italianos viemos para cá, ou para outro lugar do mundo. Procurando alguma coisa? Não sei. Não consigo mais ver a situação dos imigrantes como era antes. Não sei se eles querem passar a vida toda num país que não é seu, são momentos. Querem fazer uma experiência de um mês, seis meses,um ano ou talvez uma vida. A imigração é fluida. Hoje, a globalização mudou a vida dos imigrantes, hoje se pode falar com sua mãe todos os dias. Antes não era assim. Não existem mais imigrantes como antes.

O Infoscópio - Mas qual foi a sua motivação para vir para o Brasil, especificamente?

Davide - Como te disse antes, são vários os fatores. Não é assim, estou pobre na Itália e vou ficar rico no Brasil. Essa questão de dizer que a Europa está em crise, e o Brasil em desenvolvimento, isso é uma bobagem total, porque isso é uma visão de mundo que alguém criou. A pessoa que imigra hoje, não fica fazendo análises do tipo: o Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) cresce 3% ao ano e na Itália não. Ninguém fica fazendo estes cálculos.

Eu vim para o Brasil por motivos pessoais, pois eu poderia estar em qualquer lugar do mundo. A minha meta era a estabilidade, um emprego fixo, não coisas temporárias como eu tinha antes. Isso era meu plano de vida.

O Infoscópio - Como era a vida na Itália?

Davide - Ah, minha vida na Itália...(fica pensativo por instantes). Lá eu me formei, em Florença, na Laurea Magistrale que junta graduação e mestrado. Isso foi antes da reforma universitária em 2000. Depois disso participei de algumas seleções de emprego, algumas fui bem, outras não. Eu ganhei um prêmio de melhor pesquisador jovem da Itália, em 2006, por uma das melhores revistas de lá, chamada Polis. O prêmio se chama Giovani Ricercatori.

O Infoscópio - Qual é sua relação com a política?

Davide - Fui vereador durante dez anos na Itália. Comecei exercer esse cargo aos 24 anos, depois fui reeleito. Isso no município de San Giovani Valdarno, na província de Arezzo.

O Infoscópio - Ser vereador na Itália é diferente do que ser aqui no Brasil?

Davide - Sim, claro. Na Itália a eleição é bem participativa e, além disso, é bem difícil acessar a câmara dos vereadores, que lá se chama Concilio.Tem que entrar primeiro numa lista. Lá o vereador não ganha quase nada, e existe bastante prefeituras,são 8.105.

 O Infoscópio - Como vereador, qual projeto considera que fizeste melhor?

Davide - Naquela época, a Itália estava começando a entrar em crise. No início dos anos 90, já começou a ter cortes nos repasses dos municípios e aumentou nos anos 2000.
Na minha opinião não é o vereador sozinho que faz alguma coisa e sim a Câmara. O vereador não existe fora desse contexto. Naquela época, a Câmara realizou bons projetos para amenizar a situação agravante que já estava no país.

O Infoscópio - Os conhecimentos de cientista político te ajudaram para realizar seus mandatos como vereador?

Davide - Sim, claro que me ajudou. Mas são coisas diferentes.

O Infoscópio - Como o Sr. vê a política são-borjense?

Davide - É muito difícil analisar, pois lá na Itália a política estava numa profunda crise. Não são tempos bons para ninguém. Hoje, existe uma forte fragmentação nos partidos e isso não tem sentido nenhum. Mas aqui tem coisas diferentes sim.

O Infoscópio - O que, por exemplo?

Davide - Não é que seja uma parte boa e uma parte ruim. Vejo que a população não se envolve. São questões de participar do município. Aqui não tem muitas associações, cooperativas.
O povo é muito mais participativo lá e isso influencia em algumas coisas. Por exemplo, eu posso andar com segurança à noite em Toscana, deixar a casa aberta, a chave do carro e não acontece nada.
Na Itália, o espaço público é maior, seja em termos físicos, como parques e praças, como também sociais. Se tu moras na mesma cidade, tu pertences ao mesmo espaço.
Em São Borja são mundos diferentes e isso é reflexo da política. A diversidade explica um pouco isso.

O Infoscópio – Como foi recebido em São Borja?

Davide - Eu fui muito bem recebido. Gostei da recepção. Para mim foi uma ótima experiência. Mas não é assim para todo mundo.

O Infoscópio – Qual é a maior diferença entre São Borja e a Toscana?

Davide - A questão da segurança. Na Toscana ninguém precisa ter um contrato com a ROTA (empresa de vigilância em São Borja). Isso tem um efeito social enorme. Isso chega às pessoas, destrói o espaço público.
O fato de teres um jardim atrás da casa, significa ter menos espaço no público. Eu nunca tive um jardim privado na Itália, mas fazia parte de associações. Lá ninguém loca DVD para assistir em casa se tem ambientes para fazer isso. Tudo é público.

O Infoscópio – Retomando o assunto da Imigração, os brasileiros têm uma visão distorcida dos italianos?

Davide -  Digamos que sim. Pois a imagem que pode ter ficado é do italiano egoísta, fechado. Tudo são as circunstâncias. No século XIX eles passaram fome, viveram numa escravidão. Lutavam contra o mundo e contra todos. Isso cria uma pessoa fechada. O italiano pensa muito na família, tem uma visão “familiarista”. Eu penso assim! É a minha família e deu, o restante eu não me importo. Hoje em dia, as pessoas não se ajudam tanto como antes. A diferença dos imigrantes daquela época é que eles estavam desesperados e a primeira razão era a pobreza. Famílias que vinham para cá mandavam cartas dizendo: vem para cá, que aqui tu não tem dono! A primeira e a segunda grande Guerra também impulsionaram a imigração.

O Infoscópio – Pensa em trabalhar na política aqui em São Borja?

Davide - Não especificamente. Eu faço política todos os dias sendo professor, mas política partidária eu não quero. Gosto muito de participar de debates, pois em qualquer debate que discuta o sistema social brasileiro ou de qualquer outro país, se está fazendo política.

O Infoscópio - O que mais lhe agrada aqui no Brasil?

Davide - O que eu gosto do Brasil é a transformação. Eu sou um sociólogo, portanto, ver uma sociedade em transformação é interessante. Além de ser um lugar muito agradável. Eu tenho três vidas: uma aqui em São Borja; outra em Porto Alegre, onde minha esposa vive; e outra na Itália, onde estão minhas raízes. Só tem uma coisa ruim nisso tudo: viajar de uma a duas vezes ao mês. Eu estou envelhecendo. Isso não é bom para mim ! (risos).
                                                              
Para contextualizar os marcos da Imigração Italiana no Brasil, você poderá acompanhar o resgate histórico deste período até os dias atuais, ouvindo o podcast “Imigração Italiana no Brasil – História”.

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