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23 de abr. de 2012

A lojinha dos turcos

Por que os Árabes, de forma geral, são tão comumente chamados de "Turcos", no Brasil?



 
Renan Guerra

“Turco” virou sinônimo de árabe, especialmente do comércio dos árabes, tão comum em inúmeras cidades do país. A famosa “lojinha dos turcos”. Andem pelas ruas de São Borja onde se encontram árabes ou descendentes e ouçam constantemente a denominação “turcos” para todo e qualquer árabe.

Na minha cidade, Santiago, curiosamente não encontramos descendentes de árabes, mas toda e qualquer lojinha que vende quinquilharias é chamada de “loja dos turcos”. Dia desses, minha mãe disse:

- Vamos passar ali na lojinha das turcas.

Quando eu entro na loja me deparo com duas mulheres com longos cabelos e saias jeans, que aparentavam pertencer a uma das inúmeras igrejas neopentecostais existentes atualmente, nada haver com turcas. Antes de desvendarmos as raízes dessa confusão, é importante deixar claro que árabe é o cidadão que fala árabe ou vem de países pertencentes à Liga Árabe ou ainda tem a ascendência dos habitantes originais da península arábica . Pontuo ainda que chamar os árabes de muçulmanos é outro erro, já que o muçulmano é apenas a pessoa que adere ao Islã, já a população árabe é formada por judeus, cristãos e muçulmanos. Enfim, nem todo árabe é muçulmano e nem todo árabe é turco.

A confusão territorial, cultural e linguística que acontece no Brasil se dá pela história das migrações destes povos. Sempre palco de inúmeras disputas territoriais, o Oriente Médio era em grande parte comandado pelo Império Otomano, formado por turcos otomanos, até 1923, quando é criada da República da Turquia. Sendo assim, até essa data os povos que migravam acabavam saindo com documentação otomana, isto é, turca, fazendo com que todos os imigrantes da região, mesmo sendo libaneses, sírios, entre outros, fossem chamados de turcos.

Curiosamente já se passaram quase cem anos e as confusões permanecem, tanto no âmbito comunicacional brasileiro quanto nas divisões territoriais do Oriente Médio. A história dos turcos (e aqui me refiro apenas ao povo turco e não a todos os árabes) é riquíssima, cheia de disputas de poder e territórios. Essas ainda permanecem no Oriente Médio atual, justificando o fato de muitos países não estarem satisfeitos com suas extensões - como o exemplo das infinitas disputas por territórios curdos na Turquia. Mesmo com tanta confusão, atualmente a Turquia é um dos estados mais modernos da região (tentem considerar a minha visão ocidentalizada no uso da palavra moderno) e tem uma separação bem definida entre estado e religião.

No Brasil, a maioria dos nossos imigrantes do Oriente Médio são libaneses e sírios, por causa dessas confusões linguísticas, que apenas geraram um preconceito secular, acabamos por não conhecer todas essas culturas diferentes. Ainda enxergamos o “turco” da lojinha com olhares estranhos e depois da campanha norte-americana para vilificar o povo árabe então, as barreiras culturais só aumentaram. Ainda consideramos, com nosso olhar ocidental, tudo ultrapassado, sem considerar que nem todo árabe é muçulmano, que nem todo muçulmano é xiita, que nem toda mulher árabe sofre, que nem todo homem árabe é um ogro.

Um fato historicamente curioso acabou nos relegando um distanciamento cultural que deve ser quebrado, devemos conhecer mais essas culturas diferentes e conviver harmoniosamente. Há uma produção interessantíssima que vem do Oriente Médio, desde literária até cinematográfica, passando claro pela vibrante música pop da região. Tento aqui apenas clarear nossa visão e tornar a nomenclatura “turcos” apenas aos verdadeiros turcos e que toda essa confusão torne-se risível diante das forças culturais que surgem dessa convivência. 

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