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30 de abr. de 2012

Que papel damos às mulheres árabes?

Em análise ao lugar da mulher árabe na sociedade brasileira, como podemos enxergá-las
livre dos estigmas ocidentais? 


Aline Sant Ana

De árabes a turcos e, por fim palestinos. A questão da Imigração dos povos árabes no Brasil é sempre um assunto que rende bastante detalhamento. Aqui em São Borja, a presença de imigrantes ou descendentes de imigrantes palestinos, libaneses e sírios, chama atenção, tornando a questão ainda mais interessante de ser tratada. Por residirem, quase que em sua totalidade, na região central da cidade, os árabes (como chamaremos nesta matéria) representam boa parte do comércio e da população urbana sãoborjense.

Não há como não identificar os componentes desta Imigração num cenário tão homogêneo, como o de uma cidade pequena. Mesmo quem anda um pouquinho desatento pelo centro de São Borja percebe a concentração de pessoas organicamente diferentes. Em trajes, aspectos físicos, nomes, línguas e rotinas distintas, os imigrantes árabes vivem uma vida comum para os padrões do lugar. Mas ainda assim, algo os destaca na realidade da fronteira.

Para a profª da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Denise Jardim, o ambiente fronteiriço é exatamente o espaço que os povos oriundos das crises territoriais do Oriente Médio , como os palestinos, procuram. A professora explica, na entrevista concedida à IHU que a busca por boas condições de vida, a reorganização familiar após a imigração e as possibilidades de “ir e vir” são fatores que impulsionam a concentração de árabes, principalmente palestinos, nas regiões de fronteira. Além disso, o fluxo comerciário e a facilidade para a obtenção de documentos que legitimem a Imigração Transnacional, favorecem a estadia destes Imigrantes nas fronteiras.

Esta condição transitória acaba por interferir na perspectiva ocidental da Imigração árabe, em que os movimentos pan-arabistas confundem-se com os segmentos sociais e culturais vividos pelos povos árabes. Por isso, quando migram para os países como o Brasil, cujos costumes culturais são muitos distintos, os árabes enfrentam alguns desvios de reconhecimento– sendo comumente taxados de turcos.

O Infoscópio preocupou-se em pesquisar por que alguns (pré) conceitos estigmatizados sobre estes Imigrantes provocam uma verdade quase absoluta no processo de reconhecimento destes povos . Assim como o texto de Renam Guerra explica a origem do chamamento “turco” para todo e qualquer árabe residente no Brasil, a repórter Aline Sant Ana mostra qual o papel da mulher no processo de Imigração, em contraponto ao conceito ocidental geralmente difundido.

Não é preciso ir muito longe para entender por que o mundo ocidental projeta uma imagem tão subversiva à mulher árabe. “Vestidas da cabeça aos pés”, mesmo em dias bem quentes, meninas e mulheres muçulmanas ainda causam indignação a algumas pessoas que circulam pelo movimentado centro comercial de São Borja. O excesso de pano incomoda aos patriatários acostumados com pernas e bustos expostos no verão brasileiro.

Se fizermos uma observação crítica às vestimentas, nem todas mulheres árabes ficam tão vestidas e nem todas brasileiras tão expostas. É uma questão de contexto. Ao propor uma análise da imagem da Mulher Árabe aqui no Brasil, aproximando a realidade de São Borja, conversamos com Simone Pires que nos conta como essas mulheres se posicionam diante da nossa sociedade.

Estudante de serviço social, concede entrevista à repórter Aline Santana
Simone, que é estudante do curso de Serviço Social da Unipampa, realizou uma pesquisa de relatos-orais sobre como ocorreu a vinda de algumas famílias para São Borja e como se dá o cotidiano dessas pessoas na cidade. Durante a pesquisa a estudante pôde acompanhar alguns momentos importantes, como a realização de um casamento numa das famílias. Simone relata que a questão do matrimônio na comunidade muçulmana é algo sagrado e, portanto, muito respeitado por estas pessoas.

A estudante aponta que muitas vezes o matrimônio pode ser a própria causa da imigração. “O casamento que testemunhei era de uma libanesa que veio para o Brasil por que a família do noivo já estava aqui”, conta. Para Simone a questão da relação de gêneros na cultura árabe, quando relacionada ao papel da mulher diante da sociedade, pode variar tanto quanto na nossa cultura. “O fato de estarem mais vestidas não significa nenhum tipo de submissão. Já conheci mulheres árabes muito liberais, assim como já conheci brasileiras submissas.”

Um bom exemplo de não-estigmatização foram os protestos das mulheres libanesas durante o as mobilizações da primavera-árabe. Enquanto as árabes, de véu e vestidos longos , lutavam pelos seus direitos nas ruas, o mundo ocidental (tão liberal) assistia o ocorrido pela mídia. O exemplo de protagonismo, neste caso, já responde qual o posicionamento da mulher árabe diante da sociedade.

Em São Borja, no entanto, o papel da mulher árabe fica mais evidente nas relações de trabalho familiar. Nas famílias cuja renda provém especificamente do comércio, as mulheres assumem uma postura à frente dos negócios.

Uma análise feita pela pesquisadora Samira Osman, publicada em artigo científico mostra que o papel da mulher árabe tratado no assunto Imigração condiz, principalmente, com a transformação de Imigração provisória, para a Imigração definitiva. No artigo, Samira defende que “ao contrário do que possa parecer à primeira vista, essas mulheres imigrantes deixaram a posição secundária de acompanhantes para exercer um papel fundamental no processo imigratório em toda sua complexidade”. A autora evidencia como o papel da mulher pode ser contextualizado a partir do processo de Imigração e, tão logo, justificado pelo processo de adaptação econômico e cultural destes povos nos países de destino.

Para entender como funciona essa diferença entre os processos de Imigração, procuramos o antropólogo Daniel Etchverry (UFRGS) , e questionamos quais as perspectivas contemporâneas para o processo imigratório nas cidades de fronteira. Confira a entrevista na íntegra:


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