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22 de abr. de 2012

De Ain Arab à São Borja

Estevan Minini
Liziane Wolfart
Roberto Ferreira


Imagine você atravessar o mundo aos 19 anos, com 30 dólares no bolso, em busca de oportunidades em terras distantes. Esse é o ponto de partida para contarmos a história de Mohamad Ibrahim El Masri, imigrante libanês que aportou no Brasil em 1958 e fixou residência na cidade de São Borja.

Com a informação de que Mohamad era um dos imigrantes mais antigos residentes no município, fomos até a Casa dos Tecidos, loja de sua propriedade, localizada no centro da cidade, para conhecer a sua história. Lá chegando, fomos recebidos gentilmente por Ibrahim Mohamad El Masri, seu filho. Explicado o motivo da visita, procuramos agendar um horário para a entrevista.

O jovem Ibrahim então nos informou do recente falecimento do comerciante, decorrente de uma crise de insuficiência respiratória. Ibrahim, bastante emocionado, passou a nos relatar a trajetória de seu pai em terras brasileiras.

A trajetória

Mohamad veio do Líbano para prosperar em São Borja,
seu filho Ibrahim deseja fazer o caminho inverso 

Mohamad Ibrahim El Masri deixou sua cidade natal Ain Arab, no Líbano, aos 19 anos com a intenção de morar no Brasil. Lá o jovem trabalhava com a família na criação de ovelhas e cultivo de azeitona e uva. “Meu pai veio se aventurar no Brasil, ele queria trabalhar, não sabia ainda no que, mas queria muito vir para o Brasil”, contou seu filho.

Com apenas 30 dólares no bolso Mohamad embarcou no navio espanhol Cabo San Roque e, após uma viagem de 30 dias, desembarcou no Rio de Janeiro.

Sem entender uma palavra em português foi aconselhado por um conterrâneo que conheceu no desembarque: “Todos desembarcaram e foram recebidos por seus familiares. Meu pai ficou sozinho. Por sorte ou destino encontrou um libanês, dono de uma grande fábrica de peças, que lhe explicou como era a vida no Brasil, lhe sugeriu que fosse para uma cidade menor e indicou Porto Alegre”, relatou Ibrahim.

Ele ficou cerca de três meses ganhando a vida vendendo frutas. “Em Porto Alegre falavam muito que São Borja era uma boa cidade, tinha a fama de ser a Terra dos Presidentes e meu pai decidiu que viria para cá”, esclareceu Ibrahim.

Mohamad então veio para São Borja, onde iniciou o trabalho de mascate, vendendo confecções de porta em porta, inclusive no interior do município. Neste ofício o imigrante atuou por 15 anos. “Meu pai chegou a ser chamado de louco, pois muitas vezes, entre uma visita e outra, dormia no campo, com temperaturas que chegavam a menos três graus”, revelou seu filho.

Comércio da família El Masri em esquina do centro da cidade 

O legado

Após 15 anos vendendo suas mercadorias de porta em porta, Mohamad abriu uma loja de confecções, onde hoje se encontra o Banco do Brasil. Após alguns anos mudou-se para a esquina das ruas Presidente Vargas e General Marques, atual endereço da loja da família.

Ibrahim conta que o pai nunca teve a oportunidade de voltar ao Líbano, porém em 2005 e 2010 recebeu a visita de um dos seus três irmãos, que atualmente reside no Canadá. O descendente libanês revela que tem vontade de viver no país onde seu pai nasceu.

“Se Deus quiser, um dia irei morar lá. É o meu sonho. Quero fazer ao contrário. Meu pai morreu aqui e eu gostaria de morrer lá”, revelou Ibrahim que ainda lembrou um conselho do pai: “sente perto de quem te faz chorar e não de quem te faz sorrir. Aquele que te faz chorar no início é aquele que te aconselha para o bem, mais tarde, aquele que sempre te fez sorrir, pode te fazer chorar”.

Confira no vídeo abaixo a entrevista com Guaraci Pletsch, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Borja, que analisa a importância da presença árabe no comércio local:


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